Graziele Rossato
CEO Viaflow
Fui convidada para participar do painel sobre “Relações de Trabalho na Era Digital” no Congresso ANEFAC 2025. Com muita honra, dividi o palco com Leandra Zamboni e tive o prazer da mediação do Guilherme Cavalieri. Ah, como aprendemos quando compartilhamos nosso conhecimento e experiências. Sempre um momento especial!
Em um mundo em constante transformação, é comum ouvirmos sobre tecnologia, inovação e transformação digital como os grandes protagonistas da mudança. Mas a verdadeira prova de que os desafios são reais está em entender que os maiores obstáculos são humanos.
Mais do que falar em transformação digital, precisamos falar de negócio — e isso significa, inevitavelmente, tratar de pessoas, processos e tecnologia. E aqui está o ponto central: a tecnologia é apenas uma parte da equação. A verdadeira transformação começa na cultura corporativa, na forma como lideramos e desenvolvemos pessoas, e na nossa capacidade de repensar modelos de negócio.
Evoluir Dá Trabalho — E Desconforto Também
Conversas difíceis fazem parte do processo. E quase nada disso é pessoal — é estrutural, é organizacional. O futuro do trabalho está diretamente ligado à nossa capacidade de adaptação, o que exige aprendizado contínuo, muitas vezes em ciclos cada vez mais curtos.
A evolução passa, necessariamente, pelo desconforto. Sem ele, não há movimento. Por isso, atitude, criatividade e experimentação são essenciais. É preciso sair da zona de conforto para alcançar o novo.
Afinal, muitos (eu diria a maioria, rs) dos nossos obstáculos estão apenas na nossa mente. Portanto, a forma como pensamos e agimos é o que nos diferencia.
Humildade, Agilidade e a Força do Coletivo
Transformações reais começam quando adotamos um mindset de aprendizado contínuo, humildade intelectual e a coragem de celebrar o que aprendemos no caminho. Agilidade com governança é o equilíbrio entre inovar com responsabilidade e respeitar estruturas sem engessá-las.
Fazer coisas diferentes exercita o cérebro. Fazer perguntas, contar boas histórias, lembrar que todo mundo começa de algum lugar — como Raul, CEO da BDO, que contou sua história mencionando que começou vendendo pipas. Eu, por exemplo, comecei vendendo gibis! São formas de nos conectarmos com as pessoas, trazendo a visão humana da nossa jornada profissional atrelada à nossa trajetória de vida.
O esporte coletivo também foi fundamental na minha carreira. Por muitos anos fui goleira de handebol, e atuar em equipe — aprendendo a perder, a ganhar, a lidar com conflitos — sempre com olhar de time, fez toda a diferença para mim.
Liderança que Engaja e Aprende
Engajar times não é sobre comando e controle. É sobre viver experiências reais e aprender com elas. É sobre menos hierarquia e mais colaboração. É deixar o ego de lado e olhar para o coletivo, dando palco para todos, com meritocracia.
Nesse sentido, cito Boli, COO da Anefac, que lidera com muito cuidado profissionais — alguns pro bono, outros contratados — em meio a política e diferentes interesses. Um exemplo de energia e entrega para a sociedade, mesmo diante das adversidades.
Liderar exige humildade para aprender, inteligência social e emocional e, acima de tudo, diálogo aberto.
Sem autoconhecimento, as chances de sermos bons líderes são pequenas. Precisamos conhecer nossos gatilhos emocionais, entender que inteligência emocional não é apatia social. Precisamos sentir, vibrar com as vitórias, aprender com as derrotas e permitir-se ao desconforto.
Hipercarregados, Hiperconectados, Hipervulneráveis
Vivemos uma era de hiperconectividade, onde a sensação de estar sempre atrasado ou desatualizado nos consome. Isso nos leva a uma pergunta importante: até que ponto as empresas devem se envolver em assuntos pessoais? Qual é o limite entre o que é do trabalho e o que é do indivíduo?
Esse equilíbrio é um desafio constante — tanto para as empresas quanto para as lideranças.
Cuidar é Mais do que Oferecer Benefícios
Saúde social no ambiente de trabalho envolve pertencimento, relacionamentos saudáveis e propósito. Isso constrói uma cultura corporativa de cuidado.
Não basta oferecer um bom plano de saúde se a empresa está emocionalmente doente. O trabalho precisa ser de base. Na raiz. É um processo contínuo, corajoso, que exige enfrentamento.
Porque, no fim das contas, são os humanos que constroem as empresas. E são os humanos que, com coragem, mindset e aprendizado contínuo, podem transformá-las.
Que cada um de nós assuma o protagonismo da transformação — com coragem, aprendizado contínuo e um olhar coletivo. Vamos juntos construir o futuro do trabalho?